Imagem – Roberto Fernandes
‘Enquanto as polarizações afastam, Preces Fora do Armário toca em dois pontos nevrálgicos e delicados (religiosidade e diversidade sexual) com acolhimento e sem preconceitos, unindo as pontas de um novelo bastante complexo para alimentar diálogos’.
A partir do lançamento do curta documental Preces Fora do Armário, dirigido por Márcio Andrade e realizado pela Combo Multimídia, realizamos uma entrevista com Débora Garcia, gerente de conteúdo do Canal Futura, para tratar de maneira mais ampla sobre o incentivo do Futura a curtas documentais com temáticas relacionadas à diversidade.
O curta será exibido no Canal Futura no dia 27.02, às 18h45, e também se encontra disponível no Futura Play (acesse AQUI)
Primeiro, queria que você falasse um pouco sobre como funciona esse edital de incentivo à produção de curtas para composição da grade do Futura e como vocês veem os resultados das temporadas anteriores – e desta também.
O edital é aberto anualmente e incentiva a execução de trinta curtas-metragens para um faixa de 15 minutos na programação, pois se trata de um espaço bem estratégico para circular por outras mídias, além de ajudar a compor a grade do Canal Futura, bastante voltada para o gênero documental. Por se tratar de um gênero que permite tratar de temas complexos e demanda um olhar mais subjetivo e menos prescritivo, o Futura aposta no documentário a partir desse edital de incentivo.
Mesmo sabendo que não se trata de um valor gigantesco para financiar essas produções, acreditamos que se trata de um incentivo a produções que já se encontram em gestação: que já tenham personagens pesquisados e uma estrutura mínima para sua execução. Esse valor termina se tornando, então, um incentivo para a produção de uma espécie de teaser relacionado ao tema, que pode ajudar a transformar esses curtas em documentários de longa duração. A gente tem ouvido muitos relatos dos participantes comentando que o edital termina funcionando como uma porta aberta para que os realizadores tenham suas obras exibidas em um canal de alcance nacional e, assim, ter uma chancela para alçar outros voos. Então, isso que nos motiva a trabalhar com os documentários de curta-metragem.
Quanto aos resultados desses editais, acredito que a gente faz apostas ‘no escuro’, já que não conhecemos os realizadores e somente lemos uma ementa e um currículo que ajudam a decidir se vale a pena, de fato, seguir em frente com o incentivo. Mesmo assim, podemos dizer que mais de 80% de toda a produção desses curtas que foi feita até o momento (mais de cem documentários) estiveram na média ou acima da média das nossas expectativas – com alguns deles, inclusive, ganhando prêmios e circulando em festivais. Então, a gente, no Canal Futura, gosta e aposta demais nessa faixa de exibição. Desejamos, inclusive, ampliá-la com mais recursos.
Pelos títulos selecionados, junto com o Preces Fora do Armário, percebem-se outros curtas com a temática de gênero e diversidade sexual, tais como ‘Macho, Sim Senhor’ ou ‘O super vôlei gay do Amazonas’ e ‘João ou Maria?’, por exemplo. Como vocês, como instituição, veem a seleção dos curtas como ato político e de formação do público de vocês?
Exatamente. Vocês perceberam o quadro geral das chaves que nos ajudam a selecionar os projetos de documentário. De fato, o Canal Futura tem um compromisso ético e político com todas as temáticas relacionadas a direitos humanos e a questão da diversidade sexual se insere diretamente nessa abordagem. Então, os filmes exibidos no Doc Futura, nosso pitching anual para documentários de longa-metragem, e na faixa de curtas abrangem bastante essas intenções.
Temas como diversidade sexual, gênero, biodiversidade, ética na política e nas relações pessoais, trabalho escravo e infantil, por exemplo, são bastante recorrentes no Futura por seu papel pedagógico. Então, documentários como Preces Fora do Armário são totalmente alinhados com essa decisão política do Futura em relação aos temas e conteúdos que abordamos.
Em tempos de uma polarização política que parece separar ideias progressistas de um lado e conservadoras de outro, as igrejas inclusivas parecem estar em um fogo cruzado dos dois lados. Como vocês, no Futura, veem a proposição de documentários que propõem diálogos entre instâncias consideradas tão díspares, como religião e diversidade sexual?
Esse diálogo, de certa forma, termina sendo também uma aposta do Futura nessa possibilidade de encontro, de percebermos mais aquilo que existe em comum do que as questões que nos afastam. Acreditamos que, nessa praça pública de discussão e de encontros de ideias, o conhecimento pode se fortalecer e favorecer a construção de novas formas de encarar o mundo. As polarizações afastam e segregam. Por exemplo, Preces Fora do Armário toca em dois pontos nevrálgicos e bastante delicados (religiosidade e diversidade sexual) com acolhimento e sem preconceitos, relacionando-se bem com os modos como o Futura procura tratar de temáticas desse tipo.
Outro curta que foi selecionado nesse edital, O super vôlei gay do Amazonas, também trata sobre diversidade sexual, aliando-o a um esporte muito querido pelos brasileiros em uma região inusitada, como o Amazonas. Então, trata-se de um curta que também une as pontas de um novelo bastante complexo em seus temas, como o Preces Fora do Armário, Gordas e outros documentários que escolhemos nessa edição do edital. Então, tem sido, de fato, uma aposta do Futura estabelecer esses diálogos como forma de alimentar processos educativos nessa praça pública.