Imagem – Reprodução FB | Arte – Rodrigo Sarmento

Os ensaios tratam de espetáculos de teatro e dança que sofreram retaliações por problematizem questões morais e éticas da sociedade

Dando continuidade à publicação de conteúdo sobre artes cênicas em Pernambuco, o site Quarta Parede, realizado pela Combo Multimídia e incentivado pelo Funcultura, reúne uma série de quatro ensaios de artistas e pesquisadores de teatro e dança. Intitulado Cena e Censura, o dossiê em questão toma como ponto de partida algumas performances e espetáculos que, nos últimos meses, sofreram retaliações por exporem corpos nus.

“O que me motivou a escrever essas linhas foram alguns casos noticiados na mídia, como o espetáculo de dança Zoe, da coreógrafa Francini Barros, que, em junho deste ano, foi advertida pela direção do Teatro Apolo – Recife/PE – a ‘vestir’ um dos bailarinos, que fazia uma cena de nu na calçada do teatro”, comenta Bruno Siqueira, autor de um dos textos que compõe o dossiê.

Esse evento foi um dos gatilhos para que o site resolvesse convidar outros artistas e pesquisadores a colaborar com as questões e tensões suscitadas pelo acontecimento, a partir de reflexões e fundamentações teóricas diversas. Ao contar com pesquisadores como convidados para publicar esses dossiês, o site objetiva difundir e aprofundar questões sociais, morais e éticas relacionados às artes cênicas e, assim, fomentar o pensamento cultural para formação crítica do público.

A partir do acontecimento envolvendo o espetáculo Zoe, os outros autores teceram comentários a partir de performances que também evidenciam o nu e o corpo como questões, como Isso te interessa?, da Companhia Brasileira de Teatro (PR); Macumba Antropófaga, do Teatro Oficina (SP); e DNA de Dan, de Maikon Kempinski (PR); Dark Room, da Cia Etc. (PE); e Segunda Pele, do Coletivo Lugar Comum (PE). Ao refletir a cena brasileira a partir de chaves de leitura como colonialismo, ‘civilidades’ e corpo, o dossiê pretende se configurar como um espaço de produção de pensamento a partir das contribuições dos colaboradores envolvidos. “Num tempo em que o MBL consegue fechar a exposição Queermuseu, no Santander Cultural, alegando ‘imoralidade’, ‘blasfêmia’ e ‘apologia à zoofilia e pedofilia’, parece que trazer esse dossiê se mostra até mais urgente e necessário do que gostaríamos”, comenta o editor-chefe do Quarta Parede, Márcio Andrade.

A intenção é que o site, ao possibilitar o acesso a conteúdos analíticos e críticos embasados e reflexivos de forma multimidiática (através de ensaios, podcasts e webdocumentários), pretende-se contribuir com uma expressividade particular para as leituras a respeito da arte, crítica e pesquisa nas artes cênicas. “Mais do que construir conhecimento que fiquem restritos aos corredores dos teatros ou aos eventos acadêmicos, desejamos construir reflexões relevantes ao público e diversificadas em sua forma de comunica-las”, complementa Andrade.

Desta forma, a produção do site Quarta Parede tem se voltado menos para a disponibilização de informação sobre temporadas de espetáculos e mais como um ambiente com uma diversidade de gatilhos para a construção de pensamentos em torno do espaço da cena (com ênfase no teatro e dança feitos em Pernambuco, mas não somente nele). Algumas das temáticas dos próximos dossiês abrangerão temas como Acessibilidade e Inclusão, Espaços Alternativos e Cena e Tecnologia.

Essas questões que são tratadas no debate que podem ser conferidas nos ensaios abaixo:

Por uma descolonização dos modos de fazer e de receber arte

“Por que ficar nu em nossa sociedade é um ato obsceno e condenável? Atentemo-nos para as respostas e verificaremos que a moral sustentada pertence a determinados segmentos e instituições sociais, não a todos. Nossa moral é burguesa, colonial, cristã e patriarcal” (Para ler texto completo, clique AQUI)

Por Bruno Siqueira

Doutor em Teoria da Literatura (UFPE), com tese sobre a dramaturgia brasileira moderna e contemporânea, e Professor do curso de Licenciatura em Teatro (UFPE)

Corpo: uma presença/potência que assusta

‘Quantas chances você teve de olhar o corpo do outro sem julgamentos ou interesse sexual? Nossos corpos ainda são alvos de reflexão sobre o que é correto e respeitoso de ser feito com eles, desde o quanto deve ser mostrado e que tipo de relações e afetos podem reverberar’ (Para ler mais, clique AQUI)

 Por Matilde Wrublevski

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena (PPGAC/ECO – UFRJ) e Especialista em Gestão e Produção Cultural pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Hipóteses artísticas como mirantes – Censura, colonialismo e ambivalências

‘Assim é que enxergamos os pontos de encontro entre Dinamarca e Zoe: parece estarmos fundados no pior que a racionalidade foi capaz de inventar (exploração, individualismos, concepções predatórias de vida) e fadados ao pior da ‘selvageria’ que nossos colonizadores usaram como estereótipo daquilo que deles mesmos aceitaram tentar suprimir, seus instintos e sua implicação na natureza’ (para ler mais, clique AQUI)

 Por Roberta Ramos

Professora Doutora da Licenciatura em Dança (UFPE) e do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (UFPB/UFPE). Participa como Pesquisadora do Acervo Recordança e como Artista-Pesquisadora do Coletivo Lugar Comum. Autora do livro Deslocamentos Armoriais – Reflexões sobre Política, Literatura e Dança Armoriais (2012), desdobramento de sua tese de doutorado, e organizadora e autora no livro Acordes e Traçados Historiográficos – A Dança no Recife (2016).

O que o nu revela?

‘Talvez o que o corpo nu, de fato, desnude é tudo aquilo que nos veste: ideias sobre corpo, construções morais, preconceitos, intolerâncias… E assim nos coloca em frente a um espelho, diante do que não aceitamos ainda hoje: nosso conceito de falido de civilização, que não sustenta nossa existência plural e múltipla’ (para ler mais, clique AQUI)

Por Liana Gesteira

Mestranda em Dança (UFBA), Especialista em Dança – Práticas e Pensamentos do corpo (Faculdade Angel Vianna) e Graduada em Jornalismo (UNICAP). Pesquisadora na área de dança, atuando principalmente nos temas processos criativos, performance, história da arte e crítica da arte. Além disso, atua como pesquisadora do Acervo RecorDança e dançarina-coreógrafa do Coletivo Lugar Comum.

Bruno Siqueira, Márcio Andrade, João Guilherme, Marcelo Sena Créditos - Roberto Fernandes

Bruno Siqueira, Márcio Andrade, João Guilherme, Marcelo Sena
Créditos – Roberto Fernandes

Sobre o Quarta Parede

Atuante desde abril de 2015, o site Quarta parede foi criado pela produtora de conteúdo Combo Multimídia e incentivado desde seu início pelo Funcultura, investindo na comunicação multimídia para fomentar debates em torno de uma série de questões que atravessam o fazer cênico. Criado em dupla pelo pesquisador e produtor multimídia Márcio Andrade e pelo ator e iluminador João Guilherme de Paula, o projeto partiu de uma lacuna na divulgação dos espetáculos da cidade para investir em seu principal diferencial: a linguagem multimídia. Investir na criação de podcasts (programas de rádio para internet), em formato de mesa redonda e mediados pelo Prof. Dr. Bruno Siqueira e o artista da dança Marcelo Sena, e videocasts (vídeos curtos para plataformas como Youtube) sobre diversos aspectos que atravessam o fazer cênico na cidade, certamente, é um dos principais diferenciais do site.

Para mandar sugestões de temas a serem debatidos no site, basta enviar e-mail para contato@4parede.com ou mensagem na fanpage fb.com/4parede.


Ficha Técnica do Dossiê Cena e Censura
Produção e Edição – Márcio Andrade
Autores – Bruno Siqueira, Matilde Wrublevski, Roberta Ramos e Liana Gesteira
Designer – Rodrigo Sarmento
Coordenação Geral – Márcio Andrade
Realização – Combo Multimídia
Incentivo – Fundo de Incentivo à Cultura – Funcultura